Projeto de Mirante 
Núcleo da Pedra Grande, Parque Estadual da Serra da Cantareira, São Paulo, SP - Brasil
2016 - proposta de mirante para a disciplina de Projeto II na Escola da Cidade
O Brasil é um país geologicamente antigo. Sabe-se disso por sua localização central na placa tectônica Sul-Americana e pela baixa elevação de seu território em geral. A cidade de São Paulo, por exemplo, se situa em meio a uma serra e, mesmo em seu ponto mais alto, se eleva apenas a 832m acima do nível do mar, altura aproximada do edifício mais alto já construído (Burj Khalifa, Dubai, 826m). Soma-se o fato de que a ocupação vertical de toda a cidade acabou por apagar os traços acidentados do terreno original. Os moradores de São Paulo não estão acostumados com grandes e imponentes cadeias montanhosas. Até mesmo a topografia acidentada de seu território foi apagada pela muralha de prédios que compõe a cidade. 
Porém, em certos pontos dessa muralha, janelas se abrem para a paisagem e ao fundo se vê aquilo que os paulistanos podem ter de mais semelhante a uma grande cordilheira: a Serra da Cantareira. ​​​​​​​
Embora muito menos imponente, a Serra é de fato um dos objetos mais bonitos do estado. Por ser um Parque Estadual, o paredão conserva o pouco que restou da Mata Atlântica nativa que um dia cobriu todo o território da atual cidade. Quando o tempo e a poluição não atrapalham, é possível até ver os contornos da árvores nas encostas dos morros. Para aqueles que param em meio ao ritmo frenético da cidade para apreciar a perenidade da Serra, ela serve como um lembrete, uma memória do que o território da atual maior cidade da América Latina já foi. 
Há também quem faça o caminho contrário e se desloque propositalmente até a Serra para olhar de fora o microcosmos no qual se transformou São Paulo. Para aqueles que se aventuram nessa viagem de 40 minutos , provavelmente o destino principal será o Mirante da Pedra Grande.Pelo seu tamanho, a pedra abre quase que sem querer uma janela na mata, voltada exatamente para a cidade. ​​​​​​​
A Pedra Grande estava ali muito antes dos portugueses chegarem ao Brasil. Ela viu toda a cidade ser construída. Ela presenciou todas as outras "Pedras Grandes" que provavelmente existiam serem engolidas e sufocadas pelo crescimento desenfreado da cidade. E por uma feliz coincidência, ela mesma não teve o mesmo destino. 
Um objeto como esse merece de nós toda a deferência. Assim, construir um mirante no local da pedra, apesar de ser essa a proposta do exercício de projeto, roubaria dela o papel que cumpriu com excelência por anos. Portanto, o desenvolvimento escolhido foi justamente o contrário. Se fosse para construir uma estrutura por sobre a Pedra Grande ou em sua proximidade, ela não poderia jamais ser um mirante, ou pelo menos não um para a cidade.
A estrutura elevada, portanto, se descola da pedra. Está acima dela com o exato propósito de não atrapalhar a vista do mirante natural. Com o acesso singelo, aquele que decidir subir na estrutura se verá dentro de um corredor escuro, fechado para o exterior com exceção de dois pontos: duas janelas que se voltam para circunferência interna do círculo. A vista da cidade se torna obstruída pela própria arquitetura, que por sua vez se torna o foco central do olhar.  A cidade pertence somente a Pedra e cabe somente a ela permitir sua observação.

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