Instalação site-specific
Piscina das Marés, Leça da Palmeira, Portugal
Julho de 2022 - instalação pensada durante a participação no atelier Studio Diogo Aguiar na Porto Academy 2022 
Dos três elementos naturais que estão presentes na Piscina das Marés (mar, areia e rocha), o que se faz mais presente é justamente a rocha. Por todos os lados, as formas naturais, irregulares, assimétricas e recortadas das rochas rivalizam constantemente com a artificialidade, polidez e ortogonalidade do concreto, como que estivessem em um constante duelo para decidir quem será o centro das atenções. E é justamente por isso que ambas se completam de forma tão harmônica. 
Sem as pedras, jamais nos atentaríamos à assertividade do concreto e sem este jamais notaríamos a imponência das rochas. Ainda, se separadas, não criariam a janela para o que deveria de fato ser o protagonista do projeto: o mar. Nesse jogo de aparições e sobreposições, quase nos esquecemos do mar, que se encontra em terceiro plano, perfeitamente emoldurado na borda mais distante da piscina ​​​como um quadro, uma janela, um algo distante e inacessível. Um lugar que é visto sempre de longe. E de fato, ali na praia, ele é distante.
Pelas regras de segurança do balneário não é possível chegar perto dessa borda do tanque nem andar por sobre as pedras, aquele que quiser entrar no mar deve acessá-lo por uma ou outra passagem escondida, relativamente distante do centro do projeto ou por fora do balneário.
Quando o mar está em terceiro plano, é difícil se lembrar de que ele de fato está tão próximo. O que nos faz perceber o mar como mar, e não somente como um grande corpo d'água, é justamente o movimento das ondas, das marés. Uma vez que não mais podemos ver o movimento de ir e vir das águas contra as rochas, não estamos a beira do mar. 
A maré é um movimento natural de avanços e recuos do oceano. Já a moldura é algo estático, que estabiliza e dá destaque, mas ao mesmo tempo age como janela, distanciando observador da obra. 
Maré é a junção de ambas as coisas. Um simples rearranjo de perspectivas para trazer as Marés até a Piscina, sem que se tenha que deslocar toda a estrutura arquitetônica. É também uma moldura. Uma moldura cheia, que não estabiliza nem proteje seu objeto, uma vez que seria impossível emoldurar as bordas de um movimento.  ​​​​​​​ 
Em meio à frieza de cores do concreto, das rochas e dos azuis do mar e do céu, seria impossível não reparar no vermelho vivo, reluzente e artificial do grande pedaço de vinil vermelho. Principalmente se o mesmo se move. Pois, apoiado em cinco boias que flutuam no mar, a fina estrutura está sujeita ao movimento de ir e vir das ondas contra as pedras, transformando o vinil em moldura.
É uma moldura não das ondas em si, mas do movimento do vai e vem das águas do mar. É um quadro daquilo que dá nome à piscina: as Marés. Paradoxalmente, é a moldura que aproxima o mar das pessoas, ao invés de distanciá-lo. Inserida dentro da outra moldura formada pelas rochas e a borda da piscina, seu objetivo não é fazer com que o mar fique diretamente visível, mas  sim que funcione como um lembrete de sua proximidade.

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